O sofrimento é uma circunstância bem vívida em nossas rotinas. São doenças,
mortes trágicas, conflitos interpessoais, dores físicas e emocionais, e outros
mais. Infelizmente, não temos como escapar de tais circunstâncias.
A força motriz de tal realidade é o pecado. Em Gênesis vemos o relato da
advertência que Deus dá ao Homem: “... de
toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do
bem e do mal não comerás, porque, no dia em que dela comeres, certamente
morrerás” (Gn. 2. 16-17). Deus havia alertado ao homem das consequências da
desobediência, e como um Pai amoroso ele não desejava que tais circunstâncias
fossem realidade na vida de suas criaturas.
Porém, o homem pecou, e o sofrimento começou a fazer parte de nossa vida.
Logo no começo, Adão teve dificuldades para tirar da terra o seu sustento (Gn
3. 17-19) e Eva teve suas dores
multiplicadas ao ter filhos (Gn.3.16). No desenrolar da história, vemos
assassinatos (Gn. 4. 8-16); corrupção moral (Gn. 6. 1-5); embriaguez e
imoralidade (Gn. 9. 20-26) e relacionamentos baseados no medo e na mentira (Gn.
20. 1-18). O sofrimento tornou-se inevitável.
No entanto Deus não nos deixou na mão. Em muitas passagens vemos que seu
socorro é presente, e que ele nos ajuda a passarmos pelas tribulações (cf.
Salmos 46.1, 34. 4 e 6). Também temos a promessa que as tribulações acontecem
para o nosso bem a fim de sermos conformados à imagem de Jesus (Romanos
8.28-29).
Por falta de um entendimento bíblico acerca do assunto, alguns
conselheiros afirmam aos seus aconselhados aflitos de que Deus promete que vai
ficar tudo bem, pois brevemente a dor vai passar. Usam alguns salmos e algumas
passagens às vezes fora de contexto a fim de acalmar o coração atribulado. Mas será que a Bíblia diz isso mesmo?
Será que existe realmente esta promessa de uma vida mansa para todos os justos
em toda e qualquer tribulação?
O sofrimento fez parte da vida de Jesus, e não podemos requerer uma vida
melhor do que a dele. O apóstolo Paulo, grande homem de Deus, clamou três vezes
ao Senhor para lhe tirar o espinho da carne e recebeu um “a minha graça te
basta” de Deus (cf. 2 Co. 12.9). Vários irmãos viveram e morreram sob o
sofrimento (cf. Hb. 11), e não consideraram que Deus falhou em cumprir alguma
promessa sobre livramento.
Um bom intérprete das Escrituras entende que Deus pode ou não livrar
seus servos dos seus sofrimentos, dependendo de Seus Propósitos. Nas passagens
onde vemos promessas sobre o livramento do Senhor não vemos a hora e o dia
certo de que isto vai acontecer, e nem o modo como se dá. O livramento do sofrimento
certamente nos virá, porém não sabemos como e quando, pois pode acontecer nesta
vida ou apenas no povir.
Esta interpretação nos permite olhar para os textos usados por aqueles
que pregam que “vai ficar tudo bem brevemente” com uma perspectiva respeitadora
aos textos onde vemos pessoas que sofreram a vida toda por andar nos caminhos
do Senhor. Por isso, da próxima vez que se encontrar em uma situação difícil ou
for aconselhar alguém neste estado não diga simplesmente que vai ficar tudo
bem. Olhe para os propósitos do Senhor no sofrimento (Rm. 8.28-29). Olhe para a
força que ele nos supre a fim de continuarmos a caminhado à despeito das
circunstâncias (Sl. 27.1; 1 Co 10.13; Hb. 4.15, 12.1). Olhe para o céu, o novo
céu e a nova terra (Ap. 22), pois se não ficar tudo bem aqui, certamente ficará
tudo bem lá. Nisso está nossa esperança.